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Educação: 10 anos de história
Escola de Cinema Darcy Ribeiro completa uma década de atividades
por Louise Palma 21/11/2012
foto: Divulgação
No mês de outubro, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro completou dez anos de atividades. Referência na América do Sul, a escola é conhecida como um centro de formação de profissionais capacitados para atuar em diversas áreas do audiovisual e já formou mais de 3.600 alunos, do Brasil e de todos os continentes do mundo.

Fundada quando o cinema digital ainda começava a se popularizar, a ECDR viveu a fase de transição e se adaptou aos novos rumos do mercado. "Completar uma década da realização deste projeto é sinônimo de alegria e de resultados positivos", destaca Irene Ferraz, diretora e fundadora da escola.

10 ANOS FORMANDO PROFISSIONAIS

Quando começou a pensar na escola, ainda com o antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro, Irene Ferraz tinha o sonho de construir uma instituição não só para ensinar a fazer, mas também pensar o cinema no Brasil. Recém-chegada de uma intensa experiência na Escola Internacional de Cinema e TV de Santo Antônio, em Cuba, ela começou a pôr em prática a ideia.

Walter Lima Jr., cineasta e professor da ECDR, acompanhou todo o processo de fundação da escola e consegue explicar de que forma esta experiência em Cuba influenciou as diretrizes da fundação da instituição. "A Irene pensou em uma escola mais perceptiva dos valores do social, da relação do homem com a sociedade. Assim, a escola era voltada para um tipo de aluno que está descobrindo na imagem uma forma de testemunhar sua passagem pelo mundo, seu olhar sobre o mundo", afirma.

A sede, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, foi cedida à escola no ano 2000, mas precisou passar por algumas adaptações para receber o projeto. Irene conta que o edifício de cinco andares, construído para receber funções administrativas, estava praticamente em ruínas e precisou de uma grande reforma antes da abertura oficial da escola. "Fiquei dois anos fazendo os fóruns e cursos livres. O curso regular começou só em 2002, quando fomos viabilizando os outros espaços até o último andar."

O MERCADO AUDIOVISUAL E A FORMAÇÃO NO BRASIL

A fundação da Escola de Cinema Darcy Ribeiro veio fortalecer a formação de profissionais do mercado audiovisual, que tem vivido momentos prósperos no país desde a retomada do cinema nacional, em 1992. Na opinião de Irene, a quantidade e qualidade dos cursos oferecidos no Brasil melhoraram muito, mas ainda não chegaram ao ponto ideal. "Ainda não somos uma Argentina", compara ela, ressaltando que o número de escolas de cinema no país vizinho atende às várias tendências e que a prova disso é o resultado de seus filmes. "O audiovisual [no Brasil] está se organizando para se construir como uma indústria, mas ainda precisamos de mais formação e instituições preparatórias. E quanto mais, melhor! Isso é uma bola que cresce sem fim, e o resultado é diretamente proporcional."

Apesar da carência na formação profissional, o mercado audiovisual está aquecido e encontra, no Rio de Janeiro, um local de fomento, com o apoio da Prefeitura e do Governo do Estado, por exemplo. "É um momento novo, e o Rio está se constituindo como a capital audiovisual do Brasil. A Rio Filmes destina 80 milhões para o fomento do setor audiovisual, e isso vai trazer mais recursos. É uma atividade que precisa de incentivo para que se desenvolva", comemora Irene.


CRÉDITO: Divulgação

Um sinal disso é a inserção dos estudantes da ECDR no mercado de trabalho. De acordo com a diretora, 90% dos alunos conseguem emprego, muitas vezes antes de concluir seus cursos. "A própria escola encaminha os alunos através dos professores. Por exemplo, o curso de montagem e edição é um 'boom'. A procura é enorme e já no segundo semestre os alunos começam a trabalhar", explica ela.

Para Walter Lima, as escolas e centros de formação dão a estes novos profissionais um preparo melhor e a expansão do ensino na área do audiovisual é positiva para o mercado. Ele, que aprendeu o ofício na prática com o Cinema Novo, também teve sua formação nos cineclubes e nos livros. "Só acho uma coisa vantajosa na forma como aprendi: eu via muito filme. Hoje há um excesso de imagens, via internet e televisão, e talvez isso pese na formação dos alunos. Eu tento mostrar a eles, de uma maneira seleta, o que é fundamental que eles vejam", diz o professor.

TECNOLOGIA A FAVOR DA FORMAÇÃO

No início das atividades da escola, a película ainda era utilizada nas aulas e na realização dos filmes, mas Irene afirma que a transição foi rápida, já que os formatos digitais estavam se popularizando. Depois de utilizar analógico e digital simultaneamente, a escola migrou totalmente para a nova tecnologia.

A ECDR conta, atualmente, com câmeras digitais (Canon e Panasonic DVX100), equipamentos de iluminação (fresnéis) e duas ilhas de edição equipadas com Final Cut. Dos equipamentos analógicos, sobrou apenas uma enroladeira, alocada no Centro de Documentação, que reúne livros, roteiros e filmes em DVD. De acordo com Irene, todo material em película doado para a escola é reencaminhado para instituições capazes de dar as condições necessárias de armazenamento.



Entusiasta da realidade que o digital estabeleceu para o cinema, a diretora destaca, porém, que nenhuma tecnologia substitui a criatividade dos profissionais da área. "O digital se tornou um caminho sem volta. O que fazemos hoje é tirar o melhor dessa tecnologia, mas conscientes de que ela não é soberana. O que é soberano é a criação. Um criador pode utilizar qualquer tecnologia, pois vai conseguir um bom resultado", explica ela, complementando que o trabalho da escola é estimular a criatividade de seus alunos.

Para Walter Lima Jr., a tecnologia veio para somar na formação dos novos profissionais e a democratização das mídias desmistifica o lado romântico do "fazer cinema". "A tecnologia está propondo um desmascaramento de todo o glamour. Agora não é mais uma postura estética de caráter ideológico, não é mais 'uma câmera na mão e uma ideia na cabeça'. A câmera está no bolso! Você pode filmar a qualquer momento. Mas é sempre bom ter umas ideias na cabeça", ressalta o professor.

Em contrapartida, Walter acredita que a tecnologia pode deixar os futuros cineastas acomodados aos recursos oferecidos pela tecnologia. "A dificuldade gera desafios, que levam a um exercício de criatividade muito mais intenso. De alguma maneira, essas facilidades enfraqueceram um pouco o ímpeto da criatividade. Mas a natureza do brasileiro é muito criativa, porque ele se depara sempre com a precariedade. A gente é mais safo, mais alerta para tirar o coelho da cartola e viabilizar o sonho".



ALUNOS COM PERFIL DIFERENCIADO

Os resultados alcançados pela escola ao longo destes dez anos podem ser atribuídos não apenas à qualidade dos professores - dentre os quais também estão Ruy Guerra e Flavio Tambellini, levados do mercado de trabalho para as salas de aula -, mas também ao perfil diferenciado de seus alunos. Irene e Walter destacam o interesse deles em absorver conhecimento e a paixão que permeia suas trajetórias na escola. "Eu acho que não se faz cinema sem vontade e sem paixão. Alguém que quer ser cineasta não trata só de técnica: é uma maneira de ver o mundo, de se comunicar. Ninguém faz cinema só pra si", explica Walter.

Para ele, todo este entusiasmo com o cinema é reflexo do momento vivenciado pelo formato no país, que acompanha a maturidade do Brasil como nação. "Eu acho que a ambição e o sonho dos jovens por um cinema brasileiro já não tem aquela ingenuidade de quando eu comecei a fazer o Cinema Novo, de ser um cinema que buscasse pura e simplesmente a identidade brasileira. Eles querem o cinema. Fazer um filme é um objeto e não apenas ter um discurso sobre a identidade. Até porque nós não vivemos o mesmo momento de afirmação do caráter e da identidade brasileira. Eles veem outro Brasil, e o Brasil deles é um Brasil que tem força e personalidade", complementa.

Nestes dez anos, foram produzidos na escola 101 curtas-metragens, sendo que muitos deles foram reconhecidos nacional e internacionalmente. Entre estes trabalhos estão Tá (2008), dirigido por Felipe Sholl, que foi o primeiro filme brasileiro a ganhar o prêmio Teddy Bear, do Festival de Berlim, e O Som e o Resto (2008), de André Lavaquial, que participou da mostra Cinèfondation do Festival de Cannes. Outro destaque é a diretora e roteirista Julia Murad, formada pela escola, que conquistou 27 prêmios com o longa-metragem Histórias Que Só Existem Quando Lembradas, cuja roteiro teve sua primeira versão desenvolvida por ela enquanto aluna.

MODERNIZAÇÃO DA ESCOLA

Depois desta década de atividades, a escola planeja uma nova reforma em 2013, a fim de modernizar sua sede. O projeto, idealizado por Paulo Mendes da Rocha, tem como objetivo preparar os espaços para abrigar novas tecnologias, além de oferecer melhores condições elétricas e hidráulicas, capazes de suportar uma quantidade maior de alunos. "É preciso ter áreas de incêndio e elevadores modernos para transportar equipamentos", exemplifica Irene.


 
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