Luz & Cena
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Edição #160
novembro de 2012
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Entrevista: Fala, Oz!
Osvaldo Perrenoud, iluminador e ex-colunista da Luz & Cena, fala de sua trajetória profissional e, consequentemente, sobre aperfeiçoamento e important
por Rodrigo Sabatinelli 20/11/2012


Por algum tempo, o lighting designer Osvaldo Perrenoud - também conhecido como Oz - escreveu artigos mensais em nossa revista. Nos textos, sempre conduzidos com uma boa dose de humor, ele dividia com nossos leitores parte do conhecimento adquirido em mais de 30 anos dedicados à iluminação. Agora, nesta entrevista, ele relembra importantes passagens de sua vida (passagens que nem mesmo nós, parceiros do iluminador, conhecíamos) e mostra que a criação é sua maior ambição.

Vale destacar que Oz, que tem no currículo desde iluminação de espetáculos até direção de fotografia de comerciais publicitários (para conhecer mais sobre o trabalho dele, acesse www.desenhosdeluz.com.br), aproveitou a oportunidade de se tornar um especialista em produtos da Avolites, uma das mais representativas fabricantes de consoles de luz do mundo, e se inseriu no campo das artes plásticas. Tudo isso e mais um pouco ele nos conta agora. Divirta-se!

Osvaldo, ou melhor, Oz, quando e como você começou na iluminação?

"Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio que não sabia o que era, nem de onde veio. Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era,
voando, voando com as asas, asas da quimera..." [diz Osvaldo, citando Moraes Moreira]. Era 1979. Eu, aluno do curso de Engenharia, encontrei um amigo de colégio, o ator Pedro Santos, em um ônibus a caminho do clube do qual eu era atleta de natação, e perguntei o que ele andava fazendo. Pedro estava, naquele momento, atuando em uma peça chamada A Lata de Lixo da História, para a qual, tempos depois, me convidou para substituir o operador de luz, que havia saído.

Essa foi minha primeira experiência na iluminação cênica: operar luz em uma mesa com potenciômetros giratórios (dimmer) e teclas chaveadoras. Em seguida, trabalhei como ator e participei da direção coletiva de um espetáculo chamado School´s Out, escrito pelo mesmo amigo. Nele, aprendi a trabalhar em equipe, a respeitar a opinião dos outros e a dar valor à minha própria. Com isso, acabei, assim como os demais, por tomar parte em todas as áreas do projeto. De fazer filipetas a palpitar na cenografia, além de, claro, atuar.

Mas quando, de fato, começou a iluminar shows?

Passaram-se os anos e, uma noite, em Florianópolis, do alto de um prédio, assisti a um show do Alceu Valença. E vendo a luz piscar no ritmo das músicas, decidi: "é isso, luz de espetáculos musicais, o que quero fazer!". De volta a Porto Alegre, em uma conversa de boteco com o dono de uma empresa de locação de equipamentos, fui convidado a iluminar o show de uma banda local, Os Eles, utilizando, para isso, algumas PAR64 e alguns RayLight. De lá para cá, já se passaram 33 anos de curtição e, naturalmente, muito, muito trabalho.

Depois disso, você estagiou no exterior, trabalhou em São Paulo, voltou a Porto Alegre...

Sim. Na verdade, percebi bem cedo, em função do meu estudo nas faculdades de Engenharia e de Artes Cênicas, que deveria me aprofundar nos conhecimentos da arte de iluminar. Para isso, na época, busquei informação de todas as formas: importando livros por meio de amigos que viajavam para o exterior, frequentando a biblioteca do IA (Instituto de Artes da UFRGS), conversando com os mais experientes, observando e fazendo minhas anotações. Tudo era novo. Lembro quando perguntei à Margô, iluminadora radicada no Rio de Janeiro, como é que ela fazia para afinar a luz das PAR64, ela disse: "paro na posição em que quero que a PAR ilumine e me guio pelo filamento da lâmpada; vem olhar aqui". Simples assim, mas tudo era um mistério a ser desvendado.



Em 1989, visitei a Translux, em São Paulo, pois queria entender como eram feitos os dimmers e as mesas de luz. De sobra, ganhei uma régua/gabarito para aparelhos de iluminação cênica e deixei de fazer mapas com bolinhas. Nessa mesma oportunidade, fui convidado a ir à Espanha fazer um estágio, e neste estágio eu trabalharia com o renomado iluminador Francisco Fontanals. Para comemorar o Natal, iluminamos, com PAR64 aterradas - eu disse aterradas, em uma sequência pré-programada de luzes e música que, até então, eu nunca havia feito -, a parte externa de um edifício.

Quando podia, após o trabalho, assistia a um espetáculo diferente, e cada um era um novo e enriquecedor aprendizado. Pela primeira vez ouvi e vi microfones sem fio. Minha experiência no exterior só veio reforçar minha convicção de que algumas técnicas que eu tentava implementar nas minhas criações tinham fundamento. Terminado o estágio na Espanha, voltei com a bagagem recheada de conhecimento e também de novas técnicas de iluminar, e estava pronto para colocá-las em prática, já utilizando, inclusive, o software Paint para fazer meus mapas de luz. Nesta época, trabalhava rodando o Brasil com o grupo Nenhum de Nós.

Os técnicos locais que montavam o equipamento para a banda durante a turnê vão lembrar das minhas solicitações em mapa para fazerem ligação ponta a ponta e colocarem somente 2 kW em cada canal de dimmer. Isso exigia o dobro de fiação e de dimmers. Não me crucifiquem, técnicos, pois era uma visão do futuro. Dava muito mais maleabilidade à programação e o resultado era duplamente agradável aos olhos de quem assistia. Até hoje, de vez em quando, recebo elogios pela luz daqueles shows.

Em determinado momento, morei em São Paulo, trabalhando em uma casa noturna chamada Dama Xoc, para a qual meu amigo Tato Corbett fornecia equipamentos de iluminação. Mais aprendizado. Criei a luz para um dos primeiros shows do Ed Motta, sendo que, depois disso, voltei a trabalhar com ele algumas outras vezes. Voltei para Porto Alegre e, em 1992, fui morar no Rio, iluminando Oswaldo Montenegro e operando a luz, desenhada por Samuel Betts, para o Lulu Santos em turnê. Consolidava-se, então, meu aprendizado com os aparelhos convencionais, enquanto começavam a aparecer, por aqui, os moving lights.

Como foi ter trabalhado como diretor de fotografia e diretor de comerciais de TV?

Foi nessa mesma época. Houve a gravação de um especial do Oswaldo para a TV, um show dele no Canecão, e, ao final do show, o diretor me disse: "meu, que luz foi essa? Parabéns!". Fiquei todo bobo e entusiasmado, e decidi novamente: "é isso, direção de fotografia, o que eu quero fazer!". Voltei para Porto Alegre, pois sempre é mais fácil iniciar uma nova trajetória próximo de quem a gente conhece há tempos, e lá fiz meu primeiro comercial, um superclose de um prego sendo martelado e de um parafuso sendo, obviamente, aparafusado.

Foi difícil... Suava mais que tampa de marmita. Estava apavorado, mas trabalhei com garra. Ficou lindo! A partir desta "primeira claquete" vieram muitas outras. Durante estes trabalhos, sempre me interessei pelo ponto de vista do diretor, pois vislumbrava a possibilidade de unir meus conhecimentos de palco com os da televisão. Fiquei outra vez entusiasmado e decidi: "é isto, direção de cena, o que eu quero fazer!". Então dirigi vários comerciais para a TV e vídeos empresariais e passei a ter uma visão global das necessidades técnicas de uma produção de imagens para broadcast. Este background me deu conhecimento e cumplicidade com os diretores para iluminar os mais de 50 DVDs que fiz, e sigo até hoje iluminando como diretor de fotografia.

E como foi o seu retorno da publicidade para o showbizz?

Numa festa de final de ano em uma produtora de vídeos, havia uma banda tocando e um dos integrantes fazia parte do Os Eles, primeiro grupo que iluminei. Depois das cervejas que havia tomado, senti vontade de operar a luz por pura diversão. Me deu uma "coceira" nas mãos e pedi para operar uma única música. Nem preciso dizer que não larguei mais a mesa até o final do show, né? Foi uma noite de realização plena e a saudade bateu forte. Pouco tempo depois, acompanhei a gravação de um clipe desta banda e ali me convidaram para criar a luz do show de lançamento do CD. Era o grupo Papas da Língua, banda com a qual fiquei 17 anos trabalhando. Mais adiante, peguei uma mesa na estrada, uma "tal" de Avolites com "muitos" moving lights. Para ser exato, seis.



Então foi assim que começou sua história com a Avolites?

Foi mais ou menos assim:

- Dá uma força aí, meu - como eu faço para gravar uma cena?
- Tu não é iluminador?
- Tô recomeçando! Parece que perdi o trem da história...
- Monta tua cena, aperta aqui e aqui. Tá pronto. Aperta exit, clear e recomeça.
- E estas rodinhas aqui? E este outro negócio aqui?
- São os encoders, e ali é o rolacue.

O tempo que passei afastado da iluminação cênica e ligado à publicidade foi de extrema valia para aumentar meus conhecimentos e experiência, mas me mostrou que havia um abismo entre a tecnologia aplicada anteriormente e o que estava sendo praticado quando retornei. Após receber mais algumas explicações sobre os movings, fiz minha luz, mas imaginando o comentário dos técnicos naquele show: "olha só que desperdício - o cara pode até entender de luz, mas de mesa é zero!". Ali, concluí que, se quisesse voltar a fazer iluminação, deveria aprender mais sobre as novas tecnologias. Resolvi, então, recomeçar pela mesa. Liguei para São Paulo atrás do Chris Steel, que era o cara da Avolites no Brasil, e descobri que ele estava em Londres. Liguei para lá. A conversa foi assim:

- Oi, Chris, é o Oz, tudo bem?
- Tudo bem, meu irmão!
- Cara, queria fazer o curso da "Pérola".
- Eu estou em Londres e não volto por agora.
- Eu vou para Londres, então, ok?
- Vem!

E eu fui! Por lá, fiz vários cursos, colaborei em estandes da PLASA e me apaixonei ainda mais pelos produtos e pela marca Avolites. "Love your Avolife" é o que tenho feito. A ProShows tornou-se representante deles. Foi a melhor escolha que poderiam ter. Na sequência, traduzi o software Titan para o português e ministrei - ainda ministro, inclusive - o treinamento oficial dos consoles no Brasil. Agora, com o lançamento do Ai [Avolites Immersive], o media server da Avolites, um novo mundo se abre, com mais desafios e mais aprendizado. Também procurei um visualizador que me atendesse e descobri o Capture Polar, do qual sou beta tester e traduzi para o português. Aliás, a versão demo está disponível gratuitamente no site.

De que forma a pós-graduação em Iluminação e Design de Interiores auxiliou no seu aprimoramento como lighting designer?

Jamile Tormann, amiga e parceira nos trabalhos do Natal de Recife e do Boi de Parintins, sempre me dando a oportunidade de encarar novos desafios, me chamou para fazer o curso. Fiz e também fui convidado para fazer parte do corpo docente. Aceitei sem pestanejar. Na matemática da vida, dividir conhecimento é multiplicar. E, como tu podes ver, o estudo sempre me fascinou. Penso que, sem ele e a experiência prática, não fazemos nada. Mas perceber as oportunidades é importante. Uma vez, um professor me disse que a oportunidade é como uma mulher careca da metade para trás. Se não a pegarmos na vinda, não a pegamos mais.


Você acha que os iluminadores são uma soma de suas experiências dentro e fora do set ou do palco?

Tenho certeza! E sinto falta de cursos regulares para técnicos e iluminadores. Quando leio que um morreu eletrocutado em um show, me sinto culpado. Quando ouço que um palco caiu, por exemplo, sinto que somos responsáveis pela falta de aprofundamento em questões técnicas tão relevantes.

Como era o mercado de luz quando você começou? O que existia em termos de equipamentos e o que mudou para o que temos hoje?

Com relação aos projetos de iluminação, o mercado era uma feira livre na qual o feirante só fornecia bons produtos. Hoje, temos um supermercado superequipado, super-tecnológico, mas que oferece produtos de qualidade diversa. Antigamente havia mais qualidade e menos quantidade. Hoje, no meio da quantidade, o cliente precisa garimpar para encontrar o que é de qualidade.

Sobre os equipamentos, podemos dizer que eram "burros", e, hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, são "inteligentes". Tudo tem a sua época. É como a expressão "cair a ficha", que, hoje, se transformou em "desmagnetizar os créditos", não é? Mas algo permaneceu com os profissionais mais antigos: a qualidade de criação. Eu gosto de desafios, de criar com pouco e de criar com muito. Ambas as maneiras são desafiadoras. O que muda é a responsabilidade. Hoje temos um mundo de novidades e ainda teremos mais. No futuro, rirão de nós, dizendo "vejam só como eles faziam em 2012!".

Fale sobre a sua participação como diretor de iluminação do Natal Luz de Gramado.

A área de eventos é uma das minhas paixões, pois gosto de ver clientes felizes. Trabalhar como diretor de iluminação no Natal Luz é uma experiência fantástica. Esta experiência rendeu, ainda rende e renderá novos trabalhos, pois com o know how adquirido me tornei apto a outros Natais mundo afora. Em Gramado, são vários espetáculos sendo montados, programados, ensaiados e refinados ao mesmo tempo, e o apuramento técnico é total. Quando chegamos lá, entramos em um mundo de magia e também acabamos por nos tornar ajudantes do Papai Noel. Entregamos presentes em forma de espetáculos.



Além do Natal, não podemos deixar de falar da sua incursão no mundo das artes plásticas...

Exatamente. Luz e cor, luz e sombras... O desafio foi lançado: as artes plásticas são mais um caminho sendo desvendado e meticulosamente explorado. Na Sétima Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, iluminei as performances especiais, como, por exemplo, o Musicircus, de John Cage - um espetáculo coletivo com vários artistas fazendo suas apresentações em palcos individuais no mesmo local e ao mesmo tempo. Nele, quando os artistas resolvem parar, são substituídos por outros.

Esta Bienal tinha o tema "Grito e Escuta". O logotipo era feito de sete pontos que se interligavam das mais diversas formas. Criei duas formas para iluminar o Musicircus. Para minha cena geral, construímos sete discos com seis PAR56 em cada um, afinadas nos outros discos em um chase gigante, com possibilidades diferentes de entrelaçamento. Esta sequência ficava permanentemente acionada. Para as cenas específicas, programei a mesa, uma Avolites Pearl, e deixei somente o rolo com anotações e os playbacks à mostra, com um aviso do tipo "você faz a luz!". Nela, o público, e até os seguranças, criavam suas próprias misturas. Foi "bala"!



Você também fez Breath, de Samuel Beckett, e até customizou um objeto de arte, correto?

Sim, fiz Breath, com direção da competente diretora e cenógrafa Daniela Thomas. Fiz a luz de plateia e de palco com somente dez aparelhos, automatizados e em sincronia com o áudio. Pode parecer simples, mas exigiu um refinamento imenso. Fizemos em Porto Alegre e repetimos a dose na Bienal de Lyon, na França, e na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, agora em 2012. Ainda em Lyon, os artistas participantes da Bienal foram convidados pela organização a customizar a cadeira 3107, de Arne Jacobsen. A customizada por mim foi leiloada juntamente com as dos artistas envolvidos. Ao ver minha cadeira com o crédito "Designer - Osvaldo Perrenoud", pensei: "é isto o que quero fazer!".
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