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Edição #150
janeiro de 2012
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Capa: Ed Mort
Personagem de Veríssimo volta à TV em produção pop noir
por Fernando Barros 26/01/2012
foto: Kiko Cabral
Ed Mort nasceu na mente do escritor Luís Fernando Veríssimo como uma caricatura dos detetives clássicos americanos. As histórias originais estão compiladas nos livros Ed Mort e Outras Histórias (1979) e Sexo na Cabeça (1980), publicados pela L&PM. O detetive particular trapalhão, que já inspirou um longa metragem dirigido por Alain Fresnot, especiais de TV e peças de teatro, chega ao canal pago Multishow totalmente repaginado.

Com a direção de Eduardo Albergaria, fotografia de Daniel Talento e edição de Lyana Peck e Jaiê Farias, a nova adaptação para a televisão prima por manter a estética noir, sem, no entanto, perder a brasilidade e o estilo de montagem contemporâneo.

INVESTIGANDO A COMÉDIA

Ed Mort marca a volta de Eduardo Albergaria ao universo da ficção como roteirista e diretor de televisão, além de também ser uma evolução em sua parceria com o ator Fernando Caruso, com quem já trabalhou nas séries De Cara Limpa e Muito Giro, ambas também para o Multishow. Albergaria é sócio e produtor executivo da Urca Filmes, que, além da série, foi responsável pela realização de diversos documentários e longas-metragens de ficção como Os Desafinados, de Walter Lima Junior, O Engenho de Zé Lins, de Vladimir Carvalho, e O Mamute Siberiano, de Vicente Ferraz, entre outros.

Tudo começou com um desejo de Albergaria de realizar uma série de detetive, estilo de dramaturgia muito popular no mundo inteiro. "Talvez seja o gênero que dê mais resultado de audiência no universo das séries de televisão a cabo. Podemos citar como exemplos desde CSI até mesmo House, que é uma série de detetive travestida de drama médico", comenta.

Para isto, ele preferiu não desenvolver um drama, mas sim explorar as possibilidades de uma série de detetive dentro da comédia. "Ter Fernando Caruso como protagonista foi o primeiro passo neste sentido e foi ele quem deu a ideia de se tentar conseguir os direitos do Ed Mort de Luís Fernando Veríssimo."

Após o primeiro encontro com Veríssimo, ficou claro que ambos estavam na mesma página: fazia todo o sentido a ideia de desenvolver uma série de detetive que parodiasse as famosas séries americanas e emulasse a atmosfera dos filmes noir da década de 1940, com suas características bastante particulares no que diz respeito a estética (principalmente fotografia), interpretação, decupagem (planos da câmera) e montagem.

"Eu e meu parceiro de longa data Carlos Artur Thiré adaptamos os 15 contos originais para os 13 roteiros da primeira temporada. Do ponto de vista da estética, Veríssimo concorda totalmente em buscar uma estética que emule os filmes noir", conta Albergaria, revelando que sua maior referência visual foi o filme O Falcão Maltês, de John Huston, lançado em 1941 e estrelado por Humphrey Bogart.

Para ele, o grande desafio do projeto foi fazer justiça à obra do autor original, criando uma série de comédia nacional inteligente e popular ao mesmo tempo. "O segundo desafio é alcançar um padrão de qualidade audiovisual das séries internacionais", acrescenta Albergaria. O diretor faz questão de dizer que para vencer este desafio contou com a colaboração do diretor de fotografia Daniel Talento, com a diretora de arte Ligia Mastrangelo, com o autor da trilha sonora André Moraes, com seu sócio e produtor Leonardo Edde e, ainda, com os editores Lyana Peck e Jaiê Farias. "Toda equipe tem sido fundamental. Esperamos que o público possa se divertir tanto quanto nós", aposta.

CLIMA NOIR

Responsável pela fotografia dos curtas Tempo Real, de Joana Limaverde e Mino Barros Reis, Tormento, de Ricardo Rama, e Antes Só, de sua autoria, Daniel Talento teve a tarefa de trazer o olhar noir para a série.

Ele considera o conceito de fotografia de Ed Mort muito complexo, pois a temporada conta com 13 episódios, cada um com suas particularidades. "Por exemplo, temos um episódio que é todo feito com câmera na mão, outro em que apenas lentes grandes angulares foram aplicadas, outro que foi gravado em plano sequência, porém todos com referências noir", comenta Talento.

Para conseguir uma fotografia com clima típico de filmes como Dick Tracy e o já citado O Falcão Maltês, o fotógrafo se valeu de câmeras Canon 5D Mark II, originalmente usadas para fotografias, mas que ganharam popularidade também em produção de vídeo HD, e de um kit Cannon com lentes de 17mm, 50mm, 24-70mm e 70-200mm. "O maior cuidado que se deve ter em uma produção em alta definição é com a maquiagem e com os acabamentos de cenários", destaca.

Talento costuma utilizar a mesma luz tanto em película quanto em HD, "guardando as devidas proporções", segundo suas próprias palavras. O kit básico de iluminação das gravações é composto por butterfly e rebatedores para as cenas externas, enquanto que no escritório do detetive - conhecido como "escri", devido ao seu tamanho reduzido - a opção foi por um refletor Kino Flo e um 575 HMI.

TRAQUITANAS

Daniel utilizou algumas soluções inusitadas para buscar um diferencial na fotografia da série. "Fizemos inúmeras traquitanas para colocar a câmera. Teremos muitos planos diferentes nessa série. Um pequeno exemplo: há um plano em que colocamos a câmera em um tubo de quatro metros de altura amarrado a um tripé em cima de um trilho. A câmera saía do 'escri' do Ed Mort, indo até a parte externa da galeria. Ficou incrível", afirma, orgulhoso.

O orçamento muito baixo da produção dificultou bastante na hora da escolha de equipamentos e locações, segundo o diretor de fotografia. "Tivemos que fazer muitos improvisos, mas, apesar disso, a qualidade não caiu. Muito pelo contrário! E ainda nos fez ser mais criativos."

Mesmo havendo nas produções televisivas atuais uma tendência de aproximar-se cada vez mais ao estilo de iluminação e fotografia do cinema, Daniel acredita que uma série e um filme ainda continuam em posições bem diferentes. "Tecnicamente até pode existir essa aproximação, mas, artisticamente, realmente não. Na grande maioria das produções a TV continua com cara de TV."

Talento também sabe dar valor à sua equipe técnica e cita o gaffer Arlindo Freitas, os assistentes de elétrica Jó e Joubert Leandro, o maquinista Harley, o assistente de maquinaria Raimundinho, o foquista Cristiano Moraes, o egundo assistente de câmera Ciro Neves, o logger Ricardo Rama e o estagiário Lucas Fiuk como peças fundamentais na "engrenagem". "Sem esta equipe, nada seria possível", afirma.

LINGUAGEM ANTIGA EM VERSÃO POP

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Artes pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Lyana Peck, que ao lado de Jaiê Farias foi responsável pela montagem e edição do filme, concedeu uma entrevista à Luz & Cena. Nela, contou detalhes da finalização dos episódios da série.

Lyana, que tem um vasto currículo, trabalhou no Multishow, Globosat, TV Brasil e em produtoras independentes como Urca Filmes, Pindorama Filmes e Sarará Filmes. Foi editora dos programas Tira Onda, De Cara Limpa, Estúdio Móvel, Muito Giro e Aglomerado. Para o site do canal Multishow dirigiu o programa Um Chope Com, além de ter na bagagem sete curtas metragens que se dividem entre os universos da ficção, dos docs e da videoarte. Hoje é sócia-diretora da produtora Alambique Filmes.

"Ed Mort é uma série de ficção de humor cujo protagonista é um detetive particular um tanto enrolado e mulherengo. Esse ambiente de detetive remete aos anos 1940 e 1950, quando foram filmados clássicos do cinema norte-americano sobre o assunto", pontua Lyana.

Ela comenta que o que mais se fala dos filmes noir é seu lado um tanto sombrio, influenciado pelo expressionismo alemão, que aproveita o preto e branco para experimentar contrastes e usar regiões escuras no plano. "Por outro lado, o que pra mim é mais emblemático dessa época é o caráter do personagem principal: uma espécie de anti-herói, um cara meio fracassado, cheio de sarcasmo e sempre com uma queda por mulheres bonitas. Nosso personagem Ed Mort é exatamente assim."

Lyana acrescenta que a decupagem e a montagem também foram bastante influenciadas pelo estilo. "O cinema noir vale-se muito de planos parados e planos-sequência, mas com uma boa variedades de planos, deixando a montagem dinâmica, sem ser clipada. A dinâmica, muitas das vezes, já está no próprio plano graças ao movimento de câmera e dos atores", aponta.

"Isso influenciou bastante a montagem da série. A gente procurou fugir do lugar comum do plano e contraplano das séries de TV. Há cenas com 15 planos diferentes, outras com planos-sequência longos, com várias mudanças de enquadramento em si. É importante entender que isso não significa uma montagem lenta. Pelo contrário", revela Peck.

É por conta de todas estas variações e possibilidades que a montagem flui muito bem. A edição procurou fugir da linguagem de clipe, do corte a cada dois segundos de plano, do corte apenas baseado no texto. "É uma montagem mais orgânica", afirma a editora.

Sabendo do vício da televisão pela montagem clipada, a produção tomou o cuidado de dar uma cara mais nova, pop, para a linguagem antiga. "O diretor Eduardo Albergaria sugeriu o filme Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, do Guy Ritchie. Como a série Ed Mort tem algumas cenas de perseguição, o diretor achou que valia fazermos uma brincadeira de fast e slow nesses momentos, como neste filme. No episódio piloto da série isso pode ser visto em vários momentos, inclusive nas cenas aéreas", conta.

Durante a montagem, Lyana procurou usar este recurso não só nas cenas de perseguição e corrida, já que nem todo episódio conta com este tipo de cena, mas também em outras oportunidades como uma forma de amarrar e justificar a linguagem para a série como um todo. "Brinquei com o fast/slow em outros momentos, como nas imagens de passagem, que geralmente eram planos aéreos, e também na entrada da cliente no escritório, na cena da japonesa que empunha uma espada", revela Lyana.

Outra característica da montagem da série é o uso de freeze frames. "Essa foi uma ideia minha. Como a série tem muitos offs, uns devaneios loucos do personagem Ed Mort, achei que cabia bem freezar em alguns momentos, até para ressaltar o que ele está vendo para ter esse pensamento ou comentário. Minha influência para essa técnica foi o filme Trainspotting, do Danny Boyle. Casou muito bem com os fast/slow."

ARMAZENAMENTO E BACKUP

Sobre o equipamento utilizado, Lyana, bem-humorada, afirma que "não há nada de mais. Diria que há até 'de menos'". A série é editada em um Mac Pro Quadra Core com 6 GB de memória RAM rodando o sistema operacional Snow Leopard. "A gente tentou botar o Lion, que é o mais atual, mas ele ainda apresenta alguns bugs, principalmente quando roda o Final Cut 7, versão que usamos para editar. Por isso escolhemos a versão anterior." Todo o material da 5D é convertido para Apple Pro Res 422, o que demandou um espaço enorme de HD.

No piloto, a maioria das imagens em slow foi gravada em slow na própria câmera, que não era a Canon 5D Mark II, uma vez que esta não possui este recurso nativo. "Quem faz isso é a 7D. No entanto, percebemos que a 7D, por não ser full frame, não aguentou o ambiente escuro. A fotografia do Daniel Talento é meio escura, filme noir mesmo. Ficou com muito ruído. Assim, a gente passou a fazer o slow na ilha de edição."

Lyana indica ainda mais um problema em trabalhar com câmeras DSLR. "Quando convertemos seus arquivos para um padrão broadcast de edição, ficam arquivos gigantescos e pesados. É o barato que sai caro, porque a câmera é mais barata, mas depois o que se gasta para armazenamento e backup é uma loucura."

Por fim, a entrega para o canal foi feita em formato digital, já que há mais de um ano a Globosat não recebe programas em fitas. Cada episódio foi fechado em arquivo Quick Time, com tratamentos de cor e áudio concluídos e no codec IMX 50, sendo levado ao seu destino final em um HD externo.

 
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