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Edição #149
dezembro de 2010
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Entrevista: O futuro é agora
Diretor de chamadas e finalizador de peças publicitárias, Leandro Rial fala do valor da tecnologia e aposta em vida longa ao padrão HD
por Rodrigo Sabatinelli 18/12/2011
foto: Arquivo Pessoal Leandro Rial
Diretor de chamadas e publicidade, além de editor e finalizador, o carioca Leandro Rial começou a dirigir filmes ainda na faculdade. Seus curta-metragens A Máquina e Parafuso receberam diversos prêmios em festivais universitários e foram selecionados para festivais como o Resfest e o Festival de Cinema de Havana. Freelancer em edição e assistência de direção, ele "ralou" bastante até ser contratado como editor de chamadas pelos canais Globosat.

Rial atua como diretor e editor artístico na programadora de TV por assinatura, trabalhando para canais como SporTV, GNT, Multishow e Canal Brasil. Com prêmios e menções em festivais de chamadas para TV como o Promax - uma espécie de Oscar das chamadas - e o Festival de Nova York, ele fala à Luz & Cena a respeito de sua relação com a tecnologia de alta resolução e sobre como ela pode ou não influenciar na criação de produtos de qualidade.

Luz & Cena: Em 2001, ainda na faculdade de comunicação, você já dirigia curtametragens. Como era produzir filmes com a tecnologia disponível daquela época?

Leandro Rial: As primeiras [câmeras] MiniDV estavam chegando ao mercado e tinham somente um único CCD, mas eram incríveis, especialmente para quem até então só conhecia a estética "dura" das Betacam que a faculdade emprestava. Naquela época, dei sorte de encontrar amigos que queriam muito produzir, e, juntos, corremos atrás das coisas. Jodele Larcher, famoso diretor de videoclipes, é tio de uma amiga. Ele acreditava na gente e, por isso, nos emprestava seus equipamentos.

A galera que tinha talento e cara de pau para produzir corria atrás dos patrocínios para os filmes junto a donos de padarias, gráficas e até mesmo cursos de idiomas. O bom é que o nosso catering estava sempre garantido [risos]. Eu estava começando a trabalhar como montador e, quando precisava, pedia ao dono da produtora na qual fazia freelas para usar uma de suas ilhas nos fins de semana. Na época, as opções em termos de plataformas eram AViD ou EDIT. Caríssimas e lentas, mas "mágicas".

Sinceramente, não me lembro de ter ouvido falar em [Adobe] Premiere ou em Final Cut. Na verdade, sempre me identifiquei muito com essa "guerrilha" e, até hoje, me sinto mais realizado quando finalizo um trabalho no qual temos que improvisar.
 
Você sempre pensou em ser diretor ou isso foi amadurecendo com os trabalhos realizados ainda na "esfera acadêmica"?

Sou montador desde o início da minha carreira profissional. Me arrisquei por outras funções e, de vez em quando, pego em câmeras para fazer um ou outro plano. Mas, de fato, não sei configurá-las. Acho que a montagem é o caminho mais interessante para a direção. Por meio dela, você sabe o que está faltando e o que poderia estar melhor, pois é diante dela que se tem domínio de todo o material. Toda a montagem é um storyboard, só que feito após a captação.

É claro que a criatividade e o talento são o início de tudo, mas o conhecimento da montagem permite ir para qualquer caminho. Na real, tudo sempre foi claro para mim: a ordem dos planos, os tempos. E meu vício em cinema sempre me alimentou de referências. Quando realizei os primeiros curtas, tive parceiros na direção, mas, aos poucos, eles iam descobrindo que faziam melhor outras funções e eu acabava assumindo a maior parte do trabalho [de direção].

Assim que se formou, o que fez da sua vida profissional? Foi dirigir? Editar?

Ainda na faculdade, eu já trabalhava como editor freelancer. Graças a um programa de estágio, uma espécie de agência/produtora experimental, pude ter contato com equipamentos antes de ir para o mercado. Até hoje não sei o que é ficar desempregado. Na ocasião, aprendi a trabalhar com o software de edição EDIT, da Discreet, concorrente do AVID, e com ele fui me especializando em montagens. A falta de profissionais capacitados nessa plataforma me fez pegar muitos trabalhos e, apesar de saber operar os dois, fazia cinco edições em EDIT para uma em AVID.

Tive o prazer de montar de tudo - de produtos para a TV a documentários - e de trabalhar com caras como Silvio Tendler, Vicente Amorim e Jorge Fernando. Hoje, trabalho como editor artístico na Globosat, uma empresa incrível, com uma galera jovem, que me dá muita liberdade para experimentar. Lá não temos os orçamentos da Globo, mas a vontade da empresa em querer fazer o novo me faz lembrar saudosamente dos tempos da faculdade.
 
Quando você começou a dirigir, o formato Super 8 mm já era usado como "conceito". O vídeo era o formato vigente, mas, depois, com a chegada do digital, também se transformou em algo conceitual. Como você encara todas essas mudanças na tecnologia de captação de imagens?

Acho tudo incrível e a vontade de ver a obra pronta deve sempre se impor ao formato. Um orçamento baixo vai te fazer descartar a película e partir para o digital, mas vai te dar o prazer de ver o resultado muito mais rápido. Na verdade, temos espaço para tudo. Vozes estão sendo ouvidas e experiências e arte estão sendo viabilizadas graças aos formatos digitais. Hoje percebo o formato VHS se tornando "cool", como a música dos anos 1990, por exemplo.

A chegada da [câmera digital] Canon 5D e sua estética de cinema deram uma "sacudida" incrível no mercado, que ganhará ainda mais com as recentes Canon C300 e Red Scarlet-X. Com a 5D, atualmente todo mundo pode dar vida aos seus devaneios, cabendo, então, ao espectador discernir sobre o que é bom ou ruim.

O filme [película] continua sendo o "deus", mas os "semideuses", como a [câmera] Red ou a Alexia, me empolgam da mesma forma. Acho que a diferença entre a película e o digital se encurta a cada novo lançamento e isso vai se resumir ao charme peculiar de cada um. Hoje me preocupo mais com as lentes que vou usar do que com o dispositivo em si.

O HD é o atual padrão e os produtos que foram criados há dez anos, mais ou menos quando você começou, estão "visualmente" defasados. Você concorda com isso?

Concordo, mas como você disse, somente do ponto de vista "visual". Eu, como um cara que valoriza muito a estética, sempre procuro o melhor para minhas realizações, mas o que é e foi relevante nunca será esquecido. As pessoas se acostumam com as melhorias e é natural que uma estética "pobre" seja rejeitada. A garotada hoje não consegue assistir a um filme em preto e branco ou a um VHS em suas TVs de LED.

Mas não são somente a plataforma e a estética que rotulam as obras antigas de "defasadas". Os tempos de edição mudaram muito nos últimos 20 anos. Nos tempos modernos, os cortes são mais rápidos, os enquadramentos mais corajosos e a própria duração das obras diminui cada vez mais.

As pessoas querem o mais rápido, bonito e impactante possível. Quando inserida no contexto correto, qualquer mídia se torna interessante. De fato, todas as plataformas têm seu valor artístico, e, por isso, continuarão sendo consideradas, mas, infelizmente, por poucos.
 
Que tipos de cuidados devem ser tomados para que o HD, que veio para oferecer imagens mais realistas e de maior qualidade, não "destrua" um produto? É curioso assistir a uma novela e perceber, por exemplo, que o padrão de alta definição, em determinados momentos, pode acabar por condenar o resultado.
 
As novelas são média-metragens produzidos e finalizados diariamente. Por ser algo realmente muito trabalhoso de se fazer, considero o resultado final muito bom. Além da inventividade do diretor, a qualidade de um produto hoje é determinada pelos diretores de fotografia, arte e figurino, já que todos podem ter acesso aos melhores equipamentos.

O diálogo e o entrosamento entre esses profissionais, os produtores e o cliente são cruciais para que o resultado final satisfaça a todos, sendo que, nesse diálogo, orçamento, prazo e a abertura a novas ideias são tópicos fundamentais.
 
Em algum momento você teve de escolher entre o cinema, a publicidade e as produções de TV?
 
Minha ansiedade para ver um produto finalizado rapidamente nunca me fez pensar em cinema. A dinâmica da TV, apesar de ser mais "pobre", esteticamente falando, permite a você produzir mais e ter sua ideia espalhada em menor espaço de tempo. A publicidade e os videoclipes são o mundo ideal para os realizadores. Há a preocupação estética, mas sua "obra de arte" tem que estar disponível em uma semana. É corrido, cansativo, mas dá um prazer enorme. É como uma droga!

O que preocupa são os prazos cada vez menores impostos pelos clientes. Hoje se perde tempo demais em fases de pré-produção, restando sempre poucos dias para se finalizar um programa ou uma peça publicitária. Para ser sincero, só faço cinema se o projeto for irresistível.

Na sua opinião, até que ponto um diretor é "refém" da tecnologia e até que ponto ele se beneficia dela para dar origem a grandes produtos?

A dependência da tecnologia não existe. As ideias surgem e há diferentes maneiras de realizá-las, com ou sem uso tecnológico. A vontade de realizar está acima disso. Me incomoda o modo como a tecnologia "invade" algumas produções. Apesar de também trabalhar com finalização, penso meus filmes de modo que não tenham que recorrer às mágicas da pós-produção.

Já no set, toda tecnologia que ajude a tornar realidade a viagem do brainstorm é bem-vinda, mas não essencial. E se for necessário, dispenso uma super câmera em benefício de outros fatores, como figurino, arte ou profissionais competentes. Às vezes a computação gráfica é inevitável e ajuda na finalização do filme, mas é importante que seja usada com bom senso. A imagem, o som e uma boa história sempre serão mais importantes que tudo.

Um ponto polêmico sobre o uso da tecnologia é a facilidade com que se capta e armazena imagens. A gravação em cartões de memória está acabando com a decupagem e com os ensaios. O diretor "senta o dedo" no rec e depois não consegue lidar com tanto material. Falo agora como editor e finalizador, afinal de contas, perde-se um tempo enorme digitalizando imagens quando se poderia estar experimentando cortes, versões e looks diferentes.

Para você, um bom diretor precisa, necessariamente, entender de iluminação? Onde a direção e a fotografia "se encontram", literalmente, quando o assunto é profissão?

Um conhecimento, mesmo que básico, de todos os setores da produção é sempre necessário. Facilita na compreensão dos problemas e limitações técnicas e financeiras, além de dar mais ferramentas para a imaginação. O entrosamento com o fotógrafo é essencial. Ele será responsável pela estética do seu produto e deve "abraçar" o projeto, estando presente em todas as suas fases.

Diretores com mais talento para a direção de atores ou roteiro fazem dos fotógrafos seu braço direito. É claro que o look inicial está na cabeça do diretor, mas o diretor de fotografia leva isso tudo a um outro nível.

Qual é o verdadeiro papel de um diretor de filmes publicitários? Há espaço para o amplo exercício da criatividade ou trata-se um meio "engessado"?

É importante inovar, mas sem esquecer da marca e do propósito principal de uma peça publicitária, que é a venda. A publicidade é onde as novas tecnologias e técnicas surgem, mas se isso não se reverter em crescimento para o cliente, você falhou. Na TV, o target é mais amplo. O projeto não é seu ou do cliente, mas da audiência. O limite do diretor é a compreensão da mensagem pelo público.

Hoje, falando especialmente do meu trabalho, posso afirmar que há um crescente desejo por parte dos canais Globosat de que as chamadas se aproximem mais de peças publicitárias, de que se diferenciem no break. Uma boa edição, com imagens dos programas, muitas vezes não basta para comunicar uma estreia, por exemplo. Aí entra o departamento de promoções, que funciona como uma agência publicitária e uma produtora dentro da empresa.

Com o briefing e o orçamento fornecidos pelo canal, sabemos aonde podemos chegar, seja em uma externa com RED, Alexia ou Canon 5D ou em uma simples edição com um conceito incrível. Uma equipe que vai dos redatores até a parte de pós-produção, com editores, finalizadores e sonoplastas, se encarrega de entregar a peça ao cliente na data estipulada. Contamos, ainda, com um departamento de criação de arte, que nos auxilia na computação gráfica e nos "motion graphics".

Os canais se diferem bastante nos seus targets, abordagens e orçamentos, o que garante sempre trabalhos diferentes. A mecânica é bastante similar à do mercado publicitário, inclusive com os prazos super apertados.

Você acha que o atual padrão deve se manter por muitos anos ou a tecnologia tem evoluído tão rapidamente que, em pouco tempo, tudo deve mudar novamente? Arriscaria algum palpite?

Acho que ainda teremos muitos anos com o HD. O preço dos aparelhos e a comunicação falha frearam o crescimento aqui no Brasil. Apesar da base de assinantes HD do mercado de TV por assinatura crescer rápido, muita gente compra a TV com esse recurso mas não sabe que precisa de uma antena ou de um setup box diferente para ter a melhor imagem.

A interatividade também precisa crescer. Já existem transmissões por cabo em 4K e tecnologia Ultra HD, mas estão longe de serem viáveis comercialmente. Quanto ao 3D, acho que não se tornará um padrão, mas sim uma eterna opção para se curtir um game, um evento esportivo ou um filme. É muito bonito, mas, para mim, é mais tecnologia do que arte.
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