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GALERIA: Luz preguiçosa
por Renato Bolelli Rebouças
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17/10/2008
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As luminárias apagadas demonstram o fim do expediente que, a essa altura, já deve estar a ponto de recomeçar, ao vasculhar o vazio dos copos esquecidos pela sala. Mergulhados numa luz preguiçosa, embriagada, reconhecemos objetos dispersos; a televisão, o violão, o aparelho de som. E aqueles que insistem em nos observar sem olhos, deformados, coloridos, alegorias de si próprios ou de nós mesmos?
Essa instigante imagem poderia ser de uma instalação, mas pertence ao fim do espetáculo Aqueles Dois, da Cia. Luna Lunera (Belo Horizonte), inspirado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu, a que assisti neste ano no Festival Internacional de Teatro FIT/BH. O pulsante encontro entre os diretores-criadores Cláudio Dias, José Walter Albinati, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga com os iluminadores Felipe Cosse e Juliano Coelho produziu cenas belas ao manipular com simplicidade e entusiasmo numa arena objetos que remontam a casa, trabalho e imaginação.
O vigor das tonalidades masculinas, não só dos personagens como dos integrantes do projeto, nos desafia pelas imagens recortadas, mais precisas e secas, ao mesmo tempo que expõe espaços vazios, intervalos a serem ocupados, lugares ainda não preenchidos de sentidos. Os objetos da vida cotidiana apagam-se para lembrar que estamos o tempo todo sendo vigiados. E, mais importante, para lembrar, assim como as marcas do papel desenrolado diariamente, que a vida é para ser gasta.
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Renato Bolelli Rebouças é diretor de arte.
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