Muitas vezes queremos produzir um trabalho próprio e temos em mente aquele som que ouvimos por muitos anos ou aquela música que influenciou a nossa vida. Mas nem sempre esse som é a melhor referência na hora de gravar a nossa demo. Com certeza esse disco serviria muito bem como referência para uma possível pré-produção, mas em termos de qualidade sônica, nem sempre. Então a dica é estar sempre pesquisando gravações para serem usadas como referência, principalmente para mix e master.
No processo de mixagem ou de masterização é necessário estar bem ligado na parte técnica, como as características de cada instrumento e em qual faixa de freqüência este instrumento ou peça do instrumento está situado, controle de dinâmicas - se preocupando sempre em atingir a taxa de compressão ideal para cada situação -, volume, tipo de reverb utilizado (por exemplo, se você quer este reverb mais denso, mais escuro, mais brilhante).
Porém, é preciso também manter as orelhas afiadas porque uma boa mix não depende só de técnica mas da soma de fatores em que o bom gosto e até o arrojo se encaixam perfeitamente. Enfim, quando estou mixando o meu projeto eu preciso me situar. Aonde eu quero chegar, que sons e timbres quero atingir. O importante é ter um bom leque de opções de referências para poder trabalhar com um objetivo e um padrão de qualidade alto somado, obviamente, ao gosto pessoal e conhecimento técnico.
Um exemplo de uma faixa que gosto muito de usar é a faixa numero 2 do disco Imaginary Day do Pat Metheny. É uma ótima referência, em relação a timbres e, em especial, a médios e agudos - médios proeminentes, mas que não incomodam nem um pouco. Além da performance impecável por parte dos músicos, dobras muito bem executadas reforçando a definição da imagem estéreo do disco, que é maravilhosa. Uma mix com concepção pop, mas com sonoridade jazzística. A dinâmica da música foi muito bem preservada também, fazendo assim com que a mix "respire" melhor. E essas são apenas algumas das características que fazem da faixa Follow Me uma excelente fonte de informação técnica e de bom gosto.
Outro fator importante a se considerar é que, se você está dentro de um estilo, procure o que já foi feito de melhor dentro dele, porém você não precisa ficar 100% preso. Se você está mixando um disco de rock, mas confia muito na sua referência pop ou até mesmo jazz, use. Nesse caso você poderá utilizar duas referências, e não uma. Outros exemplos de referências em situações um pouco diferentes são:
Faixa Digital Bath, do disco White Pony (Deftones)
Faixa Check of Speed, do disco Two Against Nature (Steely Dan)
Faixa Jack Soul Brasileiro do disco Na Pressão (Lenine)
Em todos esses casos de referência que citei, se analisar o que está por trás do que está gravado, vai encontrar os melhores profissionais do mercado dentro daquele estilo, com destaque para os músicos que tocaram e que são parte fundamental para se obter o som impecável que todos nós procuramos.
Então, mesmo que o seu projeto tenha tido um orçamento baixo ou foi gravado por você e seus amigos no seu quarto com um equipamento mais simples,uma referência de alta qualidade estará sempre puxando o seu nível de exigência para cima e, com o tempo, você vai perceber que com esforço e dedicação poderá chegar mais longe do que imagina.
Obs 1: Nunca pare de pesquisar e tenha a mente aberta para todos os estilos (você pode detestar a Christina Aguilera, mas deve saber que os discos dela soam muito bem).
Obs 2: Toda vez que você seleciona algo para analisar, está afiando o seu ouvido para milhões de detalhes para os quais não estava atento antes.
Um dado técnico: Caso tenha um sistema que comporta mais de dois outputs (se estiver trabalhando com uma DAW e um controlador que possui a opção de monitorar com diferentes outputs), a melhor maneira de fazer o teste A/B para a audição da sua referência é tendo ela dentro da sua sessão e selecionando o primeiro par de outputs para o seu projeto e o segundo par de outputs para a referência. Com isso, poderá checar rapidamente sempre que quiser, sem ter que passar o som da sua referência através de um eventual limiter ou EQ que estiver inserido no seu master fader.
No caso de um sistema mais simples, a função solo funciona muito bem, mas sempre se lembre de bypassar qualquer eventual efeito que estiver interferindo no som da sua referência.
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