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quarta-feira, 1 de abril de 2009
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Lugar da verdade |
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Outros Carnavais
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por Enrico de Paoli
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Em qualquer lugar do mundo, quando se fala em Carnaval se imagina Rio de Janeiro. Aqui no Brasil, o Carnaval é praticamente dividido em duas culturas: o Carnaval carioca e o Carnaval baiano. Estes não competem entrem si, tamanhas as diferenças em seus estilos. E os outros... são os outros. Pouco falados. Pouco lembrados. Normalmente são opções para quem quer "fugir de Carnaval". Já estive trabalhando no áudio do Carnaval carioca com a Gabisom, e frequentei vários anos o evento. Também conheci o making-of do movimentadíssimo Carnaval de Salvador e toda a hospitalidade que me foi oferecida pelos meus amigos responsáveis pelos trios. Até este ano, pra mim, os outros eram os outros.
Na sexta-feira, ao contrário do fluxo do país, voei para fora do Rio. Fui conhecer o Carnaval paulistano. Minha idéia não é exatamente compará-lo ao do Carioca, mas lembrar aqui a beleza das diferenças deles, que está justamente em suas sutilezas. O povo carioca tem, por natureza, uma característica esperta. Não acho isso de todo bom. Tem seu charme e segurança em diversas situações, mas pode gerar uma sensação negativa em outras. Porém, no Carnaval, isso soa bem. Como dizem, tem suingue e malícia. O paulistano é organizado e educado, mais sério. No Carnaval, essas características resultam numa timidez que deu a mim uma impressão leve, muito bonita.
Não nasci no morro, tampouco entendo muito de samba. Mas não é difícil perceber as diferenças. Talvez seja como comparar o futebol europeu ao brasileiro. Mas vale lembrar que não entendo praticamente nada de futebol também (risos). A avenida é mais tranquila. Não sei se mais organizada seria a maneira certa de falar. Talvez, por tudo aparentar ser um pouquinho menor, tive uma sensação aconchegante.
E o áudio? O áudio do Carnaval carioca é grandiosamente feito pela Gabisom. O áudio do paulistano ficou durante muito tempo sob responsabilidade da Transasom. Ambas empresas, pessoais e equipamentos, são familiares meus, de outros eventos. Há alguns anos, o Carnaval paulistano tem sido sonorizado pela CF-Eventos, que tem tradição de outros eventos carnavalescos e da Formula 1 há várias temporadas. Então, além de visitar um Carnaval desconhecido pra mim, conheci um pessoal novo no making-of do evento.
A CF-Eventos, de Antonio Machado e Mario Fanucchi, fez para o Desfile das Escolas de Smaba uma parceria com a brasileira fabricante de PAs Staner (representada in-loco pelo engenheiro de sistemas sr. Maturano). A CF entrou com o equipamento de mixagem, processamento de delays e pessoal. Como a área a ser sonorizada é muito maior do que qualquer show convencional, a fabricante Staner forneceu as caixas de som para toda a avenida, platéia e carros de som.
O timbre da avenida estava bem agradável com o line array da Staner. As torres com o fly são alternadas a cada dez metros, de um lado e de outro. A transição ao trafegar na avenida era natural. O timbre da harmonia e voz estavam bonitos. E, como sempre, não dava pra esperar grande peso nos graves, uma vez que não havia acoplamento de várias caixas pra formar o array nas torres. Essa falta de peso foi um dia um incômodo pra mim. Mas, hoje, acho que faz sentido deixar o grande peso para a hora que a bateria passa, seguida do carro de som. Faz o desfile mais dinâmico, e a passagem dos ritmistas mais impactante, sem cansar tanto os ouvidos do público a noite toda.
O esquema do delay é semelhante ao do Rio. O engenheiro de áudio Toninho era o responsável pela mesa digital utilizada apenas para este fim. De dez em dez metros uma nova cena da mesa era carregada, com novo tempos de delays para as torres, de forma que o áudio do carro de som sempre chegasse ao público ao mesmo tempo em que o som das torres do PA. E quando o carro e bateria passavam, não havia áudio nas torres ali localizadas.
O trailer, ou studio, onde ficava o equipamento da house mix, era sóbrio e organizado. Com a conhecida TV mostrando o que está acontecendo na avenida. Por fim, existia um multicabo enviando sinais separados para os estúdios da Rede Globo, onde era feita a mixagem do áudio que ia para a televisão e, como segurança, o sinal desse multicabo era enviado de volta à house mix, caso houvesse qualquer falha nos sinais entrando na console que mixa o áudio local da avenida - processo também conhecido, mas de muita importância.
Eu sempre fui muito extremo. Muito radical. Pra mim sempre foi tudo ou nada. Mas, às vezes, algo fora do mainstream tem seu charme. Existem sim outros carnavais, e este valeu muito a pena conhecer de perto, tem uma beleza só dele.
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SOBRE O AUTOR |
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Enrico De Paoli é engenheiro de gravação e mixagem ou sound designer. Agora com seu INCRIVEL MUNDO das MIXAGENS, recebe projetos de todo o país para serem mixados, de forma que o cliente fica online
Para entrar em contato, escreva para cartas@enricodepaoli.com.
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